Em novembro de 1919, mudamo-nos de Olinda para o Recife. Meus pais se encantaram com uma casa confortável à Rua do Bispo Cardoso Aires, 209. Ficava bem próxima de minha Dindinha, que morava num casarão rodeado de oitões e quintal arborizado na Rua do Príncipe, 280.

Em princípios do ano 1920, ainda, na Bispo Cardoso Aires, iniciei meus estudos com meu primo Newton da Silva Maia, filho de tio Heitor. As primas Alcina e Helenira, filhas de meu tio Oscar da Silva Maia, também eram suas alunas. Newton era rigoroso e avaro em notas boas. Assim mesmo, eu logrei êxito em suas avaliações.

Não demoramos nessa residência recifense. A casa estava à venda e como meu pai não tinha meios para adquiri-la, embora muito a desejasse, resolvemos, então, passar o verão num pitoresco chalet na Praça Pinto Damasi, na Várzea. Esse chalet nos proporcionou uma agradável temporada, com animadas festas natalinas à porta de casa.

O inverno rigoroso de 1921 nos obrigou a bater retirada da Várzea e, após curta passagem numa casinha provisória na Rua do Sossego, voltamos para Olinda, cidade predileta do meu pai para residir. Então, de 1921 a 1924, residimos na Rua 27 de Janeiro, defronte do oitão da Igreja de São Pedro.

Ainda no ano de 1921, fui aluno de outro primo, irmão de Newton, o meu fraterno amigo e companheiro Bruno Maia. Ele ia à nossa casa três vezes por semana e ministrava-me as matérias do Curso Primário.

Nos anos de 22 e 23, Hoel e eu estudamos, ainda, em casa, com a professora particular Maria José Medeiros Nóia. Com ela, conclui um excelente curso primário que muito me serviu ao Curso Secundário.

Em 1923, mais uma temporada de três meses em Caruaru e, em nossa companhia, tio Oscar e filhas. Em começos de 1924, por haver suspeita de casos de Febre Amarela em Olinda, meus pais vieram se refugiar em nosso “quartel general”. Então, fomos morar no Espinheiro - uma velha casa em grande terreno arborizado, na Rua Quarenta e Oito, 429. Nessa morada, vivemos intensamente a nossa segunda infância. A liberdade de brincar num imenso quintal, subir e descer de árvores, colher frutos maduros... Nós nos divertimos com todos os brinquedos caseiros de meninos de nossa idade daquela época. Hoje, praticamente, desaparecidos. Empinávamos papagaios na rua sem movimento. Soltávamos pião. Jogávamos gude, castanha de caju para acertar uma caixa de fósforo e, também, “pedrinhas” de fragmento de telha rolada. Criávamos pombos... Inventamos uma espécie de “futebol-de-mesa” onde, em vez de botões, usávamos tampas de garrafas de cervejas ou refrigerantes. Cada um de nós possuía vários times organizados e disputávamos campeonatos renhidos. Esse brinquedo nos acompanhou pela adolescência e mesmo depois de formados, pais de família, vez por outra jogávamos o nosso “tampebol”.

Em 1925, fizemos a mais prolongada temporada em Caruaru. Em casa alugada, na Rua da Matriz. Lá, passamos cinco meses. Ao regressarmos ao Recife, meu pai começou a lecionar no Instituto Carneiro Leão.

Assim, em Janeiro de 1926, matriculei-me naquele Instituto, onde cursei até a terceira série. Em 1929, fui transferido para o Ginásio do Recife, do inesquecível Padre Félix Barreto, onde, comigo, formamos uma turma de cinco alunos.

No Carneiro Leão, conheci como professores, além dos diretores, meus queridos e saudosos amigos Arnaldo Carneiro Leão, João Cesar Marinho Falcão, os mestres Arlindo Lima, Ernesto Silva, Jorge Caú, José Hermógenes Tolentino de Carvalho, Gabriel de Araújo, Othon Paraíso, Mário Sette. Entre os colegas mais chegados, Mário Lacerda, Fernando da Veiga Pessoa, Pajuaba Neto, Austregésilo Santiago...

No Ginásio do Recife, fui aluno de Sizenando Silveira, Tucuman Braz Brederodes, Mariano Aguiar. E a nossa pequena turma de quartanistas contava com os colegas Pelópidas Silveira, Emídio Cavalcante, José Pandolf e José de Arruda Cerquinho.

Em 1930, Padre Félix não quis manter uma turma tão pequena e fomos transferidos para o Ginásio Pernambucano, onde junto aos alunos de lá, compomos uma classe de vinte e cinco estudantes. Também, nesse período, ingressei no Tiro de Guerra, EIM 216, tendo como instrutor o então sargento Nelson Cavalcante.

Ali, assisti às aulas de uma verdadeira seleção de mestres humanistas, entre os quais o extraordinário Ulisses Pernambucano, Aníbal Fernandes, Costa Pinto, Oswaldo Machado, Manuel Caetano, Francisco Figueredo, Alcino Coelho... Entre os novos colegas, não esqueço Moacir Albuquerque, Danilo Ramires, Júlio Maranhão Filho, Erasmo Peixoto.

Desde 1927, senti-me um rapaz tímido. E, ainda hoje, uma pessoa tímida, meio introspectiva, avesso a festas e a reuniões sociais. Sempre preferi a penumbra à excessiva claridade, a platéia ao palco, a moderação ao exagero. Por índole, na intimidade, sou um alguém diferente. O meu lar e o convívio com os mais íntimos sempre constituíram meu ambiente ideal. Não gosto e não sei mesmo discutir, principalmente, em se tratando de assuntos de política partidária, religião e... Futebol. Tenho as minhas convicções e predileções de que não me afasto e nem pretendo modificar as opiniões de ninguém. E sigo vivendo assim.

Voltamos para Recife em 1927 e até outubro de 1932, moramos em duas casas da Avenida Visconde de Suassuna, números 176 e 695. Ainda, continuamos a visitar Caruaru durante o período de 26 a 1930. Duas temporadas, uma de um mês (1926) e outra de três meses (1929), hospedados em casa de Silva Filho e Leocádio Porto. Ali, estivemos no Carnaval, São João e Semana da Pátria. A última visita ocorreu no Carnaval de 1930.